Que as autoridades da província iraniana de Kerman tenham proibido às mulheres o uso do branco, do vermelho e do amarelo, por se tratarem de cores excitantes, não me admira; fossem outros os tons, eventualmente mais pardacentos, e o conselho local do Ministério da Cultura e da Orientação Islâmica faria igual juízo, se vestissem formas excitantes. A mulher de vermelho talvez seja mito cinéfilo (e coisa maltratada com o hino lânguido-lamechas do Chris de Burgh), mas há momentos que nos obrigam a parar, respirar e aceitar: há qualquer coisa com ela – ia a escrever "qualquer ela", mas talvez seja melhor não abusar – vestida de vermelho. Jessica Rabbit ou Cameron Diaz em "A Máscara" ou, muito importante pesquisar no Google, Scarlett Johansson na cerimónia dos Globos de Ouro de Janeiro de 2006: está tudo resumido nas fotos desse dia e nós perdemo-nos na tradução. Ainda assim, vale a pena lembrar que, sim, o vermelho é (palavra de Wikipedia) uma cor vibrante, associada à paixão, que significa "força, virilidade, feminilidade, dinamismo". Ou "exaltante e até enervante", que se impõe "sem discrição" e "essencialmente quente". Por isto, mesmo que ache que uma mulher nos pode cativar por tudo e vestida de outra cor, talvez o vermelho nos puxe mais à contemplação, até que a vista nos doa.
Deste meu canto de observação, não altero, ainda assim, o meu comportamento em função da cor do vestido de uma mulher. Basta-me se é bonita. Numa festa ou num encontro, a vertigem pode ser o próprio vestido, como esclarece e bem Scarlett. Mas a memória repete uma frase batida: o que me faz virar a cabeça não é igual em situação alguma. Podem ser os olhos, ou as formas. No dia em que vi os olhos mais bonitos, descobri-os uns anos depois como os da minha mulher uns anos depois – e são azuis.
[depoimento para um inquérito do jornal Público sobre se os homens gostam delas vestidas de vermelho, publicado no P2 desta sexta-feira]